Da redação Lorraine Francisca Costa/Foto: Osney Vicentini
A lei foi criada para incentivar a produção e pesquisa da espécie como forma de resgatar a sua importância histórica e econômica para o estado de Mato Grosso
É comemorado hoje em Tangará da Serra, o dia da Poaia, uma planta medicinal, chamada cientificamente de Psychotria ipecacuanha, que foi responsável por movimentar a economia de alguns municípios do Estado de Mato Grosso, durante as décadas de 50 e 60. A data também tem como objetivo incentivar a produção da poaia, através da agricultura familiar, como mais uma opção de fonte de renda para empreendedores do campo.
O vereador e também professor de História, Sebastian Ramos, foi quem elaborou o projeto de lei n° 4.087, de 13 de setembro de 2013, que instituiu a data no calendário oficial do munícipio. “Tangará da Serra e Mato Grosso se beneficiaram muito da economia da poaia, ainda que em menor proporção que o ouro, a borracha e outros ciclos econômicos. Eu entendi que determinar um dia para esta planta, que tanto colaborou para economia local e inclusive que atraiu pessoas para cá, foi um reconhecimento que eu fiz para a poaia”, explica ele.
Na região, a Poaia é muito cultivada e ajuda na renda de pequenos produtores, como é o caso do produtor Osney Vicentini, que começou com 100 mil mudas em uma propriedade a 55 km de Barra do Bugres. “Hoje eu tenho 700 mil pés de poaia, irei colher três a quatro toneladas no ano que vem”, declara. Osney explica que o seu foco é a comercialização e exportação. “Eu sou encantado por essa planta e na época do meu plantio eu gero de 10 a 15 empregos”, afirma o produtor.
Pesquisas
Atualmente, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), campus de Tangará da Serra, possui um banco de germoplasma (unidade conservadora de material genético) de poaia onde são cultivadas e pesquisadas amostras, que foram coletadas em alguns municípios do estado, como: Barra do Bugres, Cáceres, Denise, Nova Olímpia, São José dos Quatro Marcos, Tangará da Serra e Vila Bela da Santíssima Trindade, que são objetos de estudo do laboratório de botânica do Programa de extensão MT Horticultura.
A professora doutora Celice Alexandre Silva, que realiza pesquisas desde o ano de 2014 sobre o cultivo da poaia, conta a intenção do banco de germoplasma. “Coletar materiais vegetais nativos de diversas regiões e trazer esse material para perto do pesquisador. Então o banco de germoplasma tem essa função, coletar e resgatar materiais de interesses para a pesquisa e deixá-lo em uma coleção própria, onde vai estar de fácil acesso para estudos no futuro”.
A professora também revela a motivação para iniciar as pesquisas. “Percebemos a necessidade de mais estudos sobre essa espécie. É uma planta que não pode passar despercebida, ela faz parte da história de Mato Grosso”, esclarece.
Além de incentivar o cultivo, a pesquisa, de acordo com Celice, pretende conscientizar as pessoas, pois ainda ocorre a extração de poaia para comercialização sem preocupação de replantar. “A poaia está com status de planta ameaçada de extinção segundo o livro vermelho da flora do Brasil”, afirma.
Planta medicinal
A falta de dados sobre o seu papel farmacológico, por ser considerada uma planta medicinal, também motivou o início das pesquisas e o fechamento de novas parcerias. Uma delas foi com o pesquisador Douglas Siqueira de Almeida Chaves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. “A nossa parceria se iniciou através de uma participação em uma banca de doutorado de uma aluna da professora Celice, onde realizamos um trabalho com algumas espécies brasileiras e uma delas é a ipeca, ipecacuanha ou poaia como é conhecida. Hoje a nossa parceria é em projetos científicos, um dos projetos contemplados pela FAPEMAT (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso). A parte química é desenvolvida toda aqui no laboratório da UFRRJ”, conta ele.
O pesquisador também explica sobre as propriedades medicinais que já foram descobertas e as que ainda se pretende comprovar. “Hoje sabemos que a poaia possui vários indicativos, já sabemos que ela é antibacteriana e antifúngica. Uma das ações dela é evitar enjoos de movimento, pois os principais componentes dessa planta é a cefalina e emetina.
Segundo Douglas, o principal objetivo é identificar possíveis substâncias que possam ter ação no sistema nervoso central, atuando no combate da ansiedade e insônia, além de uma ação protetora do sistema cardiovascular, para atuar na prevenção de infartos e trombose”, afirma Douglas.
História
Para compreender a importância histórica, cultural e econômica da planta no estado, a pesquisadora Patrícia Campos da Silva, realizou sua dissertação de mestrado com base em dados coletados a partir de depoimentos de poaeiros, que era o nome dado para homens e mulheres que trabalhavam com a extração da poaia. “A poaia chegou a ser apelidada de ouro preto de Mato Grosso. O foco principal era nas suas raízes, ela virou moeda de troca, principalmente em regiões como Barra do Bugres, Cáceres e Tangará da Serra e o pico de extrativismo de poaia ocorreu no século XIX, a partir de 1835 e se tem relatos e registros que se retirava em torno de 440 toneladas por ano, isso até 1945”, explica Patrícia.
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